terça-feira, maio 16, 2006

Ricardo Gondim


Para não ficar doido - 11/5/06
Ricardo Gondim

Todos podem adoecer mentalmente.
Não há ninguém na face da terra que não esteja sujeito a depressões,
neuroses e até surtos psicóticos.
Já acompanhei pessoas empurradas pela vida até
a fronteira do inferno que não suportaram as pressões.
Algumas foram internadas em clínicas psiquiátricas;
outras se tornaram alcoólatras; muitos se viciaram em tóxicos.
Já me vi obrigado a enfrentar a dura realidade do suicídio.
Dois rapazes, membros de minha igreja,
se mataram em ocasiões diferentes, deixando amigos e familiares destroçados.

Já presenciei o triunfo de muitos que resistiram aos embates existenciais;
esses, mesmo cambaleantes, conseguiram retomar suas vidas.
Quando me lembro deles, volto a crer no poder do companheirismo,
da fé, e na presença, muitas vezes imperceptível, de Deus.
Olho para trás e reconheço como os auxiliei a não ficarem doidos.
Até por intuição, eu os lembrava
(como sempre lembro a mim mesmo) de nossa humanidade.
Somos feitos de luzes e sombras.
Todos temos virtudes e pecados; somos excelentes e ordinários.

Os neuróticos não conseguem conviver com essa realidade
e passam a querer controlar suas sombras.
Por mais que se esforcem, vez por outra,
se surpreendem com erupções de um vulcão sombrio que dorme dentro deles.
Eles então procuram compensar seus vícios,
fugindo para mundos irreais.
Como não conseguem viver em paz com seus defeitos,
tentam se mudar para dimensões fantasiosas.
As neuroses se caracterizam quando comportamentos repetitivos
significam tentativas de camuflar defeitos, tão próprios da nossa humanidade.
O neurótico se esforça para evitar assumir que não é perfeito.
Neurose significa não saber conviver com a realidade humana.

Os psicóticos, por sua vez, tentam arrancar suas sombras.
Eles não aceitam que possam existir defeitos
e se recusam a encarar qualquer incoerência interior.
Para não se defrontarem com a realidade, são mais radicais: amputam seus olhos.
Assim, destituídos de toda capacidade de enxergar sua humanidade
composta de belezas e feiúras,
também não conseguem ver o mundo;
enlouquecem porque se desligam completamente da vida.

Já vivi tristezas profundas.
Minha alma já se contorceu de dores atrozes;
já me vi cara a cara com o Diabo.
Quase perdi meu equilíbrio, brios e vontade de viver.
Não fossem minha mulher e alguns poucos amigos,
não sei aonde chegaria meu desespero.
Desisti de encarnar o mito da perfeição.
Agora, não me flagelo quando constato minhas vaidades.
Parei de me surrar quando me surpreendo com minha vileza, inseguranças e narcisismos.
Estou aprendendo a conviver comigo mesmo.
Minha paz vem de saber que sou amado e querido de Deus,
com minhas sombras e luzes.
Ele está satisfeito comigo, mesmo conhecendo minha estrutura e sabendo que sou pó.
Quem não quiser endoidecer,

reconheça sua humanidade;
pare com qualquer tentativa de dissimular suas sombras com pieguismos;
e não continue tentando se convencer de que alcançou a santidade perfeita.
Ela só pertence à divindade.

Soli Deo Gloria

1 conversando:

Villy Fomin disse...

Oi Flavia, tudo bem? Li seus posts no meu blog. E o Samuel como esta? Qual é o email de vcs?

Abs

Villy