sábado, dezembro 02, 2006

faltam 14 dias...


dou por mim como sendo uma autêntica apreciadora
que até ao ler o prefácio de um livro,
encontra razões para apreciar...
(sim meus amigos, eu sou daquelas que até o prefácio lê!)
mas vejam lá se não há mesmo razões para isso.



"A inspiração chega de formas imprevisíveis.
Uma imagem entrevista,
uma frase entreouvida,
um cheiro que desperta uma lembrança,
uma conversação,
uma notícia no jornal,
uma repentina ideia surgida na cabeça -
coisas tão simples podem dar origem a um poema,
um quadro,
uma sinfonia,
ou até a um complexo sistema filosófico.
Acontece que a mais deslumbrante obra de Fernando Pessoa,
(...)
nasceu de uma só palavra: desassossego,
que agitou a alma de Pessoa em 1913,
mais precisamente em 20 de Janeiro.
Nesse dia redigiu, numa folha solta,
o poema «Dobre», que reza assim:

Peguei no meu coração
E pu-lo na minha mão.

Olhei-o como quem olha
Grãos de areia ou uma folha.

Olhei-o pávido e absorto
Como quem sabe estar morto;

Com a alma só comovida
Do sonho e pouco com a vida.

Ao lado do poema, pondo a folha na horizontal,
rasbiscou, em letras grandes,
«O título do Desassocego»,
sublinhando o vocábulo em grafia antiga com um traço bem vincado.
Trata-se de uma palavra simultaneamente comum e misteriosa, rica em matizes significativos e sem um bom equivalente noutras línguas, pois nem o desasosiego do espanhol consegue ser tão «desassossegado»."

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