segunda-feira, outubro 15, 2007

Já agora

Em tempos li uma crónica do Miguel Esteves Cardoso, no livro Explicações de Português (já agora - Assírio&Alvim), chamada a propósito “Já Agora”

trascrevo um trecho…

“Há uma instituição portuguesa que é única no mundo inteiro. É o já agora. Noutras culturas, tratar-se-ia de um pleonasmo. Na nossa, faz parte do passado.
O já agora, e a variante popular Já que estás com a mão na massa…, significam a forma particularmente portuguesa do desejo. Os Portugueses não gostam de dizer que querem as coisas. Entre nós, querer é considerado uma violência. Por isso, quando se chega a um café, diz-se que se queria uma bica e nunca que se quer uma bica. Se alguém oferece, também, uma aguardente, diz-se: «Já agora.» Tudo se passa no pretérito, no condicional, na coincidência. (…)
(…) Qual é a filosofia subjacente? Em primeiro lugar, há a ideia fatalista que tudo acontece aos Portugueses, apesar do que eles fazem, querem e julgam. Incluindo, evidentemente, o que eles querem fazer, fazem por querer, e julgam fazer crer. Assim, tudo o que sucede é absolutamente incontrolável. Por isso, a mentalidade do «já agora» traduz-se na ideia de que se deve aproveitar o acaso, já que nada mais se aproveita. (…) o já agora representa uma espécie de resignação perante o Destino, acrescentado do nosso nacional oportunismo.”


Já agora, imaginem no curioso universo feminino, o que isto não poderá gerar, ou somar!
Por norma… raramente vês uma mulher a dizer o que quer. É muito mais comum ver uma mulher a aproximar-se do marido e dizer… «tenho sede», elas raramente dizem, «pega-me um copo de água, por favor!»

A idéia do oportunismo, é incrívelmente forte em todos nós… no brasil, a isto se chama, levar vantagem em tudo, o famoso “jeitinho”. É interessante esta junção do Acaso do destino e o oportunismo… uma combinação que nos desobriga da responsabilidade do coexistir civilizadamente…

já agora…

pensa nisso
.

1 conversando:

Anónimo disse...

Nunca tinha pensado nisto...
É verdade nunca pedimos nada no presente é sempre no pretérito passado...
Quando temos de pedir qq coisa no presente custa sempre muito...

Bjokas
Cláudia