domingo, novembro 30, 2008


















tá um frio, que me faltam adjectivos!

cheguei até a pensar que estava a nevar... no dia seguinte granizo logo de manhã, e hoje ainda não passamos dos 9º lá fora, e cá dentro... até dói! esta foi a melhor imagem para vos fazer sentir o meu frio.

quinta-feira, novembro 27, 2008

ANSIEDADE: Doença da desconfiança!
Texto para leitura: Mateus 6

Jesus quase não falou de muitos temas que não saem de nossas conversas e preocupações.
Por exemplo, o amor entre um homem e uma mulher não tem Nele um poema, uma fala, um discurso. E acerca de sexo (outro campeão de audiência entre nós), Ele falou quando forçado pelas circunstâncias ou em razão de questões de outros.

Porém, por Ele, espontaneamente, tais temas não foram propostos.
O mesmo não se pode dizer da ansiedade.
A ela Jesus reserva significativo espaço no bojo de Seu ensino essencial: o Sermão do Monte.
De fato, isoladamente, é o assunto tratado de modo mais ilustrado e longo em todo o sermão (Mateus 5 - 7).
E por quê? Ora, as razões são muitas. E os básicos logo as associam às dificuldades da existência em todos os tempos; os psicólogos não resistem à tentação de associá-la ao mundo estressado no qual todos vivemos; tratando, assim, não da própria ansiedade, mas dos agentes contemporâneos de sua emulação.
De fato, há muitas causas secundárias quando se pensa em ansiedade. No entanto, no curto espaço deste texto, quero apenas falar acerca de três causas essenciais.
1. A ansiedade como perversão do olhar prospectivo. De fato, só somos ansiosos porque fomos dotados da bênção do olhar prospectivo. Fomos feitos capazes de olhar para o futuro mediante a imaginação, a lógica histórica, a acumulação de experiências e, sobretudo, em razão da necessidade humana de pensar no dia de amanhã, no qual, miticamente, estocamos o bem e o mal, dependendo de nosso estado de espírito. Todavia, como disse, a ansiedade é uma perversão de uma virtude: a bênção do olhar prospectivo. Na realidade, a ansiedade é a esperança vivida como experiência do pecado de ser, o qual se manifesta como incapacidade de crer no cuidado de Deus em razão de nosso descuidado para com Ele em amor. Assim, ansiedade é a expectativa de que no amanhã estaremos em perigo. O pecado perverteu todo olhar perspectivo e prospectivo.
2. A ansiedade como a esperança da Queda. Na realidade, a ansiedade é a maligna manifestação da “esperança na Queda”. Num mundo onde o ser se sabe afastado de Deus, toda expectativa é sempre contra nós, e sua forma existencial e psicológica de se fazer desesperança é mediante a ansiedade.
3. A ansiedade como desconfiança de Deus. Quando Jesus enfatizou a ansiedade como problema, o que Ele diagnosticou como causa foi a falta de confiança real no Deus real, no Deus que cuida, que é Pai, que está atento, que se dedica a ervas e pássaros, e, portanto, tem muito mais razão para cuidar da existência humana. E tudo quanto Jesus disse acerca da ansiedade se faz concluir com um convite a entrega total à confiança no reino de Deus; ou no Deus que reina sobre a vida; especialmente sobre os detalhes mais sutis. Assim, Jesus mandou que a fonte da energia espiritual e vital de cada um de nós se concentrasse apenas nas coisas que carregam o espírito do reino de Deus, pois, assim, seremos agidos por Deus, que é o que faz com que todas as coisas necessárias à vida nos sejam naturalmente acrescentadas.
Onde há ansiedade, aí ainda não há a prevalência da confiança. Ou, então, aí se instalou “um vício de sentir contra nós”, o qual só pode ser vencido mediante a entrega em fé ao amor e aos cuidados misteriosos do Pai.
Nele,

Caio Fábio

terça-feira, novembro 25, 2008

jet lag


Quando estava a preparar a mala para esta última viagem, escolhi uma daquelas mochilas giras e apertei tudo lá dentro, entretanto o meu marido me pergunta: não preferes levar uma mala de rodinhas? eu: nahh, a mochila é mais fácil...
já sabem o resto. uma dor nos braços uiui, queria ter um balãozinho!

segunda-feira, novembro 24, 2008

Psicologizando 4

Psicodinâmica e Sacrodinâmica -parte 4 (final)
Conclusão
Procuramos destacar a impor-tância da fé como fator crucial para o desenvolvimento humano. As pesquisas que apontamos enfatizam sempre que ela não é estática. Ao contrário, a fé goza de um dinamismo que lhe é próprio e a impulsiona a estágios evolutivos em que alcança expressão cada vez maior. Isso se dá em articulação com o desenvol-vimento global do ser e, em particular, com as etapas do desenvolvimento psicológico. Aventamos a hipótese de que correntes teóricas da psicologia, tais como a psicanálise e outras, falharam exatamente em não atentar para a plasticidade e a riqueza dinâmica da fé. Tendo sido concebidas a partir de dados colhidos em situações clínicas, o que pressupõe prioridade a conteúdos regressivos, elas se depararam com expressões deformadas e imaturas de fé, que foram tomadas de maneira generalizada. Por outro lado, escolas psicológicas que valorizaram o desenvolvimento saudável e a progressão à maturidade foram mais felizes em reconhecer o lugar da fé. Estas últimas continuam estimulando pesquisas que esclarecem o lugar da fé na estruturação da personalidade. A fé é um fenômeno universal. Recorrendo ainda a Fowler, encontramos os seguintes esclareci-mentos: "A fé é uma preocupação humana universal. Antes de sermos religiosos ou irreligiosos, antes de nos concebermos como católicos, protestantes, judeus ou muçulmanos, já estamos engajados em questões de fé. Quer nos tornemos incrédulos, agnósticos ou ateus, estamos preocupados com as formas pelas quais ordenamos a nossa vida e com o que torna a vida digna de ser vivida. Além disso, procuramos algo para amar, e que nos ame; algo para valorizar, e que nos dê valor; algo para honrar e respeitar, e que tenha o poder de sustentar nosso ser"24. (p.16).
A aventura da fé molda e impulsiona nossas trajetórias de vida. O referencial maior encontramos na personalidade ímpar de Jesus Cristo, exemplo de fé madura e integridade pessoal. Em nome dele "a comunidade cristã, através da história, tem convidado a humanidade a enfrentar as crises das experiências limite de cada estágio da vida com a resposta da fé, isto é, a conversão; a Bíblia mesma nos coloca o desafio da ´metanoia´, conversão, uma mudança da mente" 25.(tradução do autor)
Uriel Heckert é Médico Psiquiatra e Professor Universitário em Juiz de Fora, e presidente nacional do CPPC

1 TILLICH, Paul. Dinâmica da fé. Trad. de Walter Schlupp. Ed. Sinodal, São Leopoldo, 1974, p. 13.
2 FOWLER, James W. Estágios da fé. Trad. de Júlio Paulo T. Zabatiero. Ed. Sinodal, São Leopoldo, 1992, p.15.
3 id. ibid., p.22.
4 ELLENS, J.Harold The ulfolding christian self. In: ADEN, LeRoy; BENNER, David G.; ELLENS, J. Harold (org.) Christian perspectives on human development. Baker Book House, Grand Rapids, MI, 1992, p.141.
5 TILLICH, Paul, op.cit.
6 FOWLER, James W., op.cit.
7 HERNÁNDEZ, Carlos J. O lugar do sagrado na terapia. Trad. de Therezinha F. Privatti. Ed. Nascente/CPPC, São Paulo, 1986.
8 FREUD, Sigmund; PFISTER, Oskar. Cartas. Trad. de Karin H. Wondracek. Ed. Ultimato, Viçosa, 2000.
9 FRANKL, Viktor E. A presença ignorada de Deus. Trad. de Esly R.S.C. Hoersting, Zilda C. de Souza e Walter Schlupp. Ed. Imago/Sinodal/Sulina, Porto Alegre, 1985, p. 48.
10 TILLICH, Paul, op. cit., p. 8.
11TOURNIER, Paul El personaje y la persona. Trad. de Viviana Hanono. Ed. La Aurora, Buenos Aires, 1974.
12 ______________ La aventura de la vida. Trad. de Graziela Baravalle. Ed. La Aurora, Buenos Aires, 1976, p.287.
13 HERNÁNDEZ, Carlos J., op. cit., p.18.
14 ELLENS, J. Harold, op.cit., p.129.
15 ADEN, LeRoy Faith and the developmental cycle. In: ADEN, LeRoy; BENNER, David G.; ELLENS, J. Harold (org.) Christian perspectives on human development. Baker Book House, Grand Rapids, MI, 1992, p.33.
16 FOWLER, James W., op. cit., p.201-212.
17 id. ibid., p.107.
18 id. ibid., p.129.
19 id. ibid., p.147.
20 id. ibid., p.167.
21 id. ibid., p.169-170.
22 BONAVENTURE, Leon Apresentação. In: BÜRKI, Ago Fillenz Não sou mais a mulher com quem você se casou. Trad. de João Rezende Costa. Ed. Paulus, São Paulo, 1997, p.5.
23 ELLENS, J. Harold, op. cit., p.143.
24 FOWLER, James W., op. cit., p.16.
25 ELLENS, J. Harold, op. cit., p.142.

me´mórias de viagem


sábado foi assim em Wiesbaden,
o dia amanheceu branco
e frio muito frio

domingo, novembro 23, 2008

Psicologizando 3

Psicodinâmica e Sacrodinâmica - parte 3
por Uriel Heckert é Médico Psiquiatra e Professor Universitário em Juiz de Fora, e presidente nacional do CPPC

Estágios da Fé
Reconhecido o lugar do sagrado, podemos perceber como a fé ganha importância relevante dentro da história de vida de cada pessoa. Assim, ela deve ser estudada nas suas expressões características, articulando-se com as etapas já bem conhecidas do desenvolvimento psíquico. A fé pode ser considerada como parte desse desenvolvimento, assumindo em cada etapa aspectos dominantes característicos, sendo influenciada e determinada, pelo menos em parte, pelo estágio evolutivo que o indivíduo atravessa. Ela sofre desafios crescentes, experimenta mudanças e, por sua vez, oferece respostas esclarecedoras e estruturantes às crises da existência.
As investigações seguem dois fulcros, pelo menos, quando se busca relacionar fé e teorias do desenvolvimento. O primeiro deles parte da teoria do ciclo vital, tal como definida por Erik Erikson, e procura demonstrar a evolução da fé desde o nascimento até à morte. Essa abordagem tem permitido interes-santes estudos sobre o que significa maturidade, em termos tanto de crescimento individual como de fé.
LeRoy Aden propôs um paralelo entre as etapas do ciclo vital descritas por aquele autor e as correspondentes manifestações de fé. Assim, elaborou oito formas de expressão da fé, a partir das descrições das etapas psicossociais já conhecidas. Ele propugna por lançar luz sobre os recursos e estratégias individuais de crescimento que, em cada período, exercem influência significativa sobre a vivência da fé. Tal qual na teoria de Erikson, a ênfase recai nos aspectos sadios que cada etapa do desenvol-vimento pode apresentar.
Idade (Anos de Vida) = Fator prevalecente do desenvolvimento de identidade = Forma Predominante de fé
00-01 = Confiança / Desconfiança =
Fé como Confiança
01-03 = Autonimia / Vergonha e dúvida = Fé como Coragem
03-06 = Iniciativa / Culpa =
Fé como Obediência
06-12 = Engenhosidade / Inferioridade =
Fé como Assentimento
12-18 = Identidade / Confusão =
Fé como Identidade
>18 = Intimidade / Isolamento =
Fé como Entrega
> = Generosidade / Auto-absorsão = Fé como Doação Incondicional
> = Integridade / Desespero = Fé como Aceitação incondicional

Obs: Tradução e Adaptação do Autor
A Tabela 1 apresenta as oito formas predominantes de fé apontadas por Aden. Ele conclui que “o estágio particular do desenvol-vimento que o indivíduo atravessa influencia e, em parte, determina a resposta de fé de cada um”15.Destaca ainda que a fé oferece elementos de organização do psiquismo, tornando-se um fator de saúde e satisfação, influenciando profundamente a estruturação pessoal. Ela não se comporta passivamente durante as crises do desenvolvimento, mas contribui de forma ativa e transformadora.
Outra linha de investigação que relaciona o desenvolvimento humano com o entendimento da fé tem por base teorias cognitivo-estruturalistas. Parte-se das concepções de Jean Piaget, que descreveu as complexas estruturas psíquicas desenvolvidas pelo ser humano em crescimento, capazes de lhe garantir conhecimento e interação com o mundo. Seguindo essa direção, Lawrence Kohlberg elaborou uma seqüência estruturada que diz respeito ao desenvolvimento da consciência moral. Para o nosso interesse atual, ganha relevância o trabalho de James W. Fowler, que estudou estágios de desenvolvimento da fé, confrontando-os com as características próprias a cada etapa do desenvolvimento cognitivo.
Fowler baseou-se em ampla pesquisa, reunindo dados de mais de 359 entrevistas semi-estruturadas com pessoas de diferentes idades e formações religiosas, em países norte-americanos (Estados Unidos e Canadá). Pela análise sistemática dos dados, pôde identificar seis agrupamentos bem definidos de formas de crer, que chamou estágios da fé. Antecedendo a eles, distinguiu um pré-estágio caracterizado pela presença de uma fé que chamou indiferenciada. As categorias utiliza-das para compor as formas de fé por ele descritas foram as seguintes: locus de autoridade, forma de coerência do mundo, limites da consciência social, função simbólica, forma de lógica, assunção de perspectiva relacional e forma de julgamento moral16.
Exporemos a seguir, sucin-tamente, cada estágio descrito por Fowler, considerando que tais pesquisas são ainda pouco conhecidas em nosso meio.
Pré-estágio – Período de 0 a 2 anos de idade – Caracterizado por uma fé dita indiferenciada, em que se constrói “o fundo de confiança básica e a experiência relacional de mutualidade”, que estarão subja-centes a tudo o que virá mais tarde no desenvolvimento da fé17.
Estágio I - Período de 2 a 7 anos, chamado de fé intuitivo-projetiva. A característica marcante aqui é de uma fé fantasiosa e imitativa, que acompanha as primeiras experiências auto-conscientes, com forte conteúdo imaginativo, pois que ainda não inibido pelo pensamento lógico.
Estágio II – Período de 7 a 12 anos, caracterizado pela fé mítico-literal. As crenças neste estágio são apreendidas segundo uma interpretação literal, ganhando construção linear, mesmo que já se requeira coerência e sentido. Nele “a pessoa começa a assumir para si as estórias, crenças e observâncias que simbolizam pertença à sua comunidade”18.
Estágio III – Período de 12 a 18 anos, chamado de fé sintético-convencional. Surge a necessidade de sintetizar valores, informações e crenças, de forma a sustentar uma ideologia que dê base para a identidade e perspectivas pessoais. Desponta a capacidade de formar o “mito pessoal, o mito do próprio devir da pessoa em identidade e fé, incorporando o passado e o futuro previsto em uma imagem do ambiente último unificada por características de personalidade”19.
Estágio IV – Período de 18 a 25 anos, chamado de fé individuativo-reflexiva. Neste ponto o indivíduo está pronto para assumir responsavelmente os compromissos que lhe são inerentes, definindo seu estilo de vida, crenças e atitudes. A identidade pessoal já definida permite a afirmação de uma cosmovisão própria. A capacidade reflexiva, por sua vez, leverá ao questionamento de crenças anteriores, dando a este estágio uma caráter “desmito-logizador”.
Estágio V – Período após os 25 anos, chamado de fé conjuntiva, ou também integrativa. Aqui tende-se a ultrapassar a lógica dicotomizante anterior, atentando para as relações que pode haver entre diferentes concepções de fé. Surge uma disposição dialética que acolhe elementos anteriormente excluídos, mesmo aqueles de aparente oposição, fazendo sobressair o “eu mais profundo”, com suas complexidades e ambivalências. Passa-se a admitir a convivência com o que é diferente e ameaçador, considerando que “as apreensões da realidade transcendente são relativas, parciais e inevitavelmente distor-cedoras”.
Estágio VI – Atribuído à maturidade e caracterizado pela chamada fé universalizante. Poucos teriam acesso a esse nível de desenvolvimento da fé. Ele se expressa pelo engajamento decidido da pessoa na transformação da realidade atual, visando valores últimos. O móvel é uma “devoção à compaixão universalizante”, que brota de “visões ampliadas da comunidade universal” e permite uma prontidão a “ter comunhão com pessoas de qualquer um dos outros estágios e de quaisquer outras tradições de fé”. Fowler afirma sua crença em que “as pessoas que chegam a corporificar a fé universalizante são levadas a esses padrões de comprometimento e liderança pela providência de Deus e pelas exigências da história” 21.
Idade = Etapa do desenvolvimento Cognitivo = Estágio da Fé
0-2 anos =Etapa sensório-motora Pré-Estágio = Fé indiferenciada
2-7 anos =Etapa pré-operacional ou intuitiva Estágio I = intuitio-projetiva
7-12 anos = Etapa Operacional Comcreta Estágio II = Fé mítico-literal
12-18 anos = Etapa Operacional Formal (dicotomica) Estágio III = Fé sintético-convencional
18-25 anos = Etapa Operacional Formal (dialética) Estágio IV = Fé individuativo-reflexiva
> 25 anos = Etapa Operacional Formal (sintética) Estágio V = Fé conjuntiva (ou integrativa)
> = Etapa do desenvolvimento Cognitivo, Etapa Operacional Formal (dicotomica) Estágio VI = Fé universalizante
A Tabela 2 mostra a relação dos estágios da fé propostos por Fowler com as etapas do desenvolvimento cognitivo descritas por Piaget.
Claro está que o desenvolvimento da fé não se dá de forma linear, pois, tal qual ocorre com o progresso psíquico, ele pode sofrer retardamentos e fixações. Se a fé não encontra elementos adequados à sua evolução, aí incluídos principalmente os fatores de estagnação ao desenvolvimento global da personalidade, ela pode caminhar em descompasso com a idade cronológica. Entretanto, estará sempre em relação com o grau de maturação psíquica que a pessoa tiver alcançado. Parece razoável admitir que “não é o espiritual que aparece primeiro, mas o psíquico, e depois o espiritual”. Por outro lado, também é verdade que “é a partir do olhar do imo espiritual que a alma toma seu sentido, o que significa que a psicologia pode de novo estender a mão à teologia”.
Fowler alude à seqüência dos estágios e suas inter-relações usando a figura de um movimento espiral ascendente. A transição de um estágio a outro seguinte pressupõe uma crise, vivida com intensidade variada por cada pessoa, segundo o grau de estabilidade psíquica e a configuração existencial que a cerca no momento dado. Experiências marcantes que alterem significati-vamente conteúdos da fé, geralmente denominadas de conversão, introduzem mudanças na forma de vivenciá-la, podendo implicar numa mudança de estágio. Regressão a estágios anteriores é uma das possibilidades, mesmo que seja para melhor elaborar ou reconstituir aspectos mutilantes que tenham ficado mal resolvidos. Outra possibilidade é que tais experiências alavanquem uma retomada do desenvolvimento para níveis mais adequados.
As possibilidades que se colocam são assim descritas por J. Harold Ellens:

“Para amadurecer de um estágio a outro seguinte precisamos de conversão; isto é, precisamos ser despertados para uma nova dimensão de fé e experimentar uma visão transcendente que alargue nossos paradigmas, revise e expanda nossa cosmovisão, reintegre nosso ´self` e nossa experiência com um novo sistema de convicções e perspectivas. Quando atingimos as experiências limite que nos desafiam à conversão e resistimos às demandas de uma nova e expandida visão de verdade, de fé e de perspectiva, regredimos e nos aprisionamos na cosmovisão imatura de um estágio anterior do nosso desenvolvimento.”23 (tradução do autor).

quinta-feira, novembro 20, 2008

malas&bagagens

yes, again...

desta vez é até domingo, já sugerimos a mudança da nossa funcão para traveling assessor.
enquanto isso tuga vai perdendo para o brasil, e ouvi a pior interpretação possível e jamais ouvida dos hinos -brasileiro e português.
deveria ser considerado crime, esta "liberdade criativa" pois ninguém merece ouvir o zezé a cantar o hino nacional, nem o hino português em marrrrrrcha lenta... será que isto era uma antevisão do futebol a ser apresentado?
enfim,
um bom fds à malta, e quando cá voltar, conversaremos! pois como ouvi esta semana a C. "tenho que conversar com alguém, pois se eu falar sozinha, tenho sempre razão!"
abraços

quarta-feira, novembro 19, 2008

II Fórum Cristianismo Criativo

Já há duas semanas que tenho acompanhado online o II Fórum Cristianismo Criativo , estes vídeos são trechos da primeira sexta-feira sob o tema "Viciados em Mediocridade" assiste, e acompanha pelo portal cristianismo criativo nesta sexta às 21h (hora portuguesa).

Os estrevistados nesta 1ª noite foram - Taís Machado - assessora da ABUP e, João Alexandre, músico. Com o Sérgio Pavarini como apimentador, digo, entrevistador.

Parte I




Parte II



Psicologizando 2

Psicodinâmica e Sacrodinâmica -parte 2
por Uriel Heckert - Médico Psiquiatra, Professor Universitário em Juíz de Fora, e presidente nacional do CPPC

Sacroninâmica

Sabe-se que a teoria freudiana apoiou-se prioritariamente nos conteúdos pulsionais do inconsciente. Deles fez derivar as expressões do psiquismo humano, bem como todas as construções da cultura, aí incluídas as manifestações de fé. Houve, desde o princípio, aqueles que chamaram a atenção para o simplismo desse entendimento, destacando-se entre eles Oskar Pfister, membro do primeiro grupo de discípulos de Freud e que seguiu sendo também ministro religioso 8. Mesmo assim, é sabido que aquela visão reducionista prevaleceu.
Carl G. Jung postulou uma visão ampliada do inconsciente, incluindo o “self” numa visão mais abrangente, além dos conteúdos arquetípicos. Aí encontrou ele um reservatório de experiências ancestrais, que se expressam na riqueza dos mitos, sempre evocadores de conteúdos religiosos. Ele julgou ter resgatado, por essa via, a base de uma espiritualidade mais profunda.
Viktor E. Frankl, por seu turno, não hesitou em falar de um inconsciente espiritual, não condicionado à lógica do desejo, mas que se expressa na busca pelo sentido. Ele considerou que estava indo além de Jung, pois alinhava-se aos existencialistas na afirmação da pessoa humana como ser livre e responsável. No seu entender, “o inconsciente coletivo tem as menores probabilidades de abrigar a religiosidade precisamente porque religião envolve as mais pessoais decisões tomadas pela pessoa” 9 .
A noção de liberdade é destacada também por Paul Tillich, que propõe “uma teoria dinâmica da fé, a qual... tem sua raiz no centro da pessoa” 10. Ele destaca o papel dos elementos inconscientes, que são determinantes expressivos dos conteúdos da fé. Mas reconhece que esta é um ato consciente, ligado às escolhas mais radicais que tomamos ao longo da existência.
Paul Tournier, médico suíço proponente do movimento chamado Medicina da Pessoa, via o sagrado inevitavelmente imiscuído no fluxo da vida. Ele chamou a atenção para os momentos privilegiados em que a pessoa, fugindo da sua latência, suplanta o personagem estereotipado que nos caracteriza no cotidiano11. A expressão exuberante de vida que então se manifesta atestaria a presença divina e seria fonte de crescimento, maturidade e cura. Tais “aventuras” permitem, no seu entender, o fluir de uma espiritualidade dinâmica e espontânea, ligada à evolução natural do indivíduo e capaz de enriquecer a existência. Como destaca: “A maior aventura... é nossa própria evolução,... nossa evolução interior, nosso encontro renovado com Deus...”12.
Articulando essas contribuições, Carlos José Hernández, psiquiatra argentino, destaca a relevância que a relação com o sagrado assume na vida individual: “A pessoa sempre tem um espaço sagrado e, por conseguinte, misterioso e cheio de significado”13. Vê que esse lugar é preenchido pela fé, independente do objeto que a acolhe, e mesmo que ela se expresse por sua negação. Chama a atenção para a relação dinâmica que se estabelece entre o sagrado e o sujeito da fé, que evolui com o seu amadurecimento psíquico, sofre impactos durante as crises pessoais, ao mesmo tempo que contribui como elemento de referência e estabilidade na constituição da personalidade. O autor identifica, então, uma sacrodinâmica que corre paralela e intercambiante com o processo psicodinâmico de desenvolvimento individual.
J. Harold Ellens, psicólogo e teólogo norte-americano, sublinha a importância de se levar em conta essa dinâmica do sagrado, lembrando que “idéias e ´insights´ de natureza religiosa exercem papel crucial como mediadores dos movimentos saudáveis da personalidade humana através das transições de uma fase a outra do desenvolvimento e dos traumas modeladores que nos confrontam”14.

terça-feira, novembro 18, 2008

Psicologizando 1

Psicodinâmica e Sacrodinâmica - Parte 1
Uriel Heckert


“Jesus crescia em sabedoria, em estatura e em graça, diante de Deus e diante dos homens.” (Evangelho de Lucas 2:52, Bíblia de Jerusalém, Ed. Paulinas, 1979)
Introdução
O desenvolvimento psíquico tem sido objeto de estudo da Psicologia, a partir de diferentes enfoques teóricos e conceituais. Entretanto, por influência das suas correntes mais difundidas, as manifestações de fé, via de regra, foram sistematicamente desconsideradas. Desde o seu nascimento, sob a influência dos materialismos do Século XIX, aquela ciência habitualmente desdenhou das experiências que remetem à transcendência. Assim, em nome da crença dominante nos meios intelectuais, seguiu-se desconhecendo valores positivos nos temas religiosos. A crítica sistemática a formas opressoras de religiosidade descambou para a negação de qualquer validade a vivências que são estruturantes para o ser. Os prejuízos trazidos por essa abordagem estreita de questão tão relevante estão sendo reconsiderados a partir de uma visão mais ampla e interdisciplinar.
Sagrado, fé e religião são conceitos que se aproximam. O sagrado pode ser entendido como “algo que nos toca incondicio-nalmente”, que aponta para o infinito, sempre capaz de exercer fascínio sobre o ser humano1.
Fé expressa a busca pelo sagrado, constituindo-se na resposta possível ao seu apelo, a partir da nossa condição finita. Ela pode ser entendida como:
“o modo em que uma pessoa ou um grupo penetra no campo de força da vida. É o nosso modo de achar coerência nas múltiplas forças e relações que constituem a nossa vida e de dar sentido a elas. A fé é o modo pelo qual uma pessoa vê a si mesma em relação aos outros, sobre um pano de fundo de significados e propósitos partilhados” 2.
A fé conduz a “um alinhamento do coração ou vontade, um compromisso de lealdade e confiança”; e ainda, “implica visão, um modo de conhecer, de reconhe-cimento” 3.
As religiões são pontes que se propõem estabelecer a relação com o sagrado, a partir da sistematização da fé que anima pessoas e coletividades. Elas são “o resultado cumulativo da história de manifestações passadas da dinâmica inerente à fé, tais como foram expressas, formuladas e vivenciadas pelos antepassados e que são revividas em tradições de doutrina, liturgia, perspectivas e práticas” (Tradução do autor)4. A negação da religião, por sua vez, não indica ausência de fé, pois ela segue sendo expressa mesmo que por outro código.

Entendemos que não compete às ciências psi a validação do objeto da fé. Entretanto, as dimensões e características que ela assume na vida individual e coletiva podem e devem receber a atenção da reflexão psicológica. Diversos autores têm-se dedicado a esta tarefa, referindo-se à “dinâmica da fé” 5 ou aos “estágios da fé” 6. As variadas nuanças da relação com o sagrado podem ser enfocadas sob o conceito de “sacrodinâmica” 7.

Uriel Heckert é Médico Psiquiatra e Professor Universitário em Juiz de Fora, e presidente nacional do CPPC
obs.: as citações serão publicadas com a última parte deste artigo.

com muita massa no forno

massa de comida não a outra...(que bem mal não fazia ter um pouco mais)
isto tudo para dizer que tenho pensado muito(na vida)em boas ideias para escrever.
estas duas semanas estão compromissadas demais, e para colocar os pensamentos no papel,é preciso + do que tempo,faz falta disposição.
mas para não deixar o vazio existencial dominar os pensamentos, deixarei aqui a conversa de outros.
abraços.

segunda-feira, novembro 17, 2008

Como se tivesse acordado agora...

Para começar a semana...

... com duas reflexões sobre a humanidade.









Movimento Perpétuo Associativo - Deolinda

Agora sim, damos a volta a isso,
Agora sim, há pernas para andar,
Agora sim, eu sinto optimismo,
Vamos em frente ninguém nos vai parar.

Agora não que é hora do almoço,
Agora não que é hora do jantar,
Agora não que eu acho que não posso ,
Amanhã vou trabaralhar.


Agora sim temos a força toda ,
Agora sim há fé neste querer,
Agora sim só vejo gente boa,
Vamos em frente e havemos de vencer.

Agora não que me dói a barriga,
Agora não dizem que vai chover,
Agora não que joga o benfica,
E eu tenho mais que fazer.


Agora sim cantamos com vontade,
Agora sim eu sinto a união,
Agora sim já ouço a liberdade,
Vamos em frente é esta a direcção.

Agora não que falta um impresso,
Agora não que o meu pai não quer,
Agora não que há engarrafamentos,
Vão sem mim que eu vou lá ter.

Vão sem mim que eu vou lá ter
Vão sem mim que eu vou lá ter
Vão sem mim que eu vou lá ter
Vão sem mim que eu vou lá ter
Vão sem mim que eu vou lá ter.



sexta-feira, novembro 14, 2008

um dolitá

Depois de 2 palestras pela manhã, 9h30 de viagem trancafiada num carro, tudo o que eu não precisava era uma insónia.

1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10, 11, 12, 13, 14, 15, 16,...

tempo certo (2) - volver

de volta do encontro (que foi muito bom) com nuestros hermanos de GBU-Espanha. é tempo de limpar a caixa de correio, rever os amigos, ler 1/10 do que os amigos escreveram, e prometer escrever (mais tarde) alguns dos bons insights desta semana.

promessas são para se cumprir,
quem viver, verá! =]

segunda-feira, novembro 10, 2008

tempo certo

olá,
tudo tem um tempo certo.
nesta semana meu tempo estará longe daqui.
volto na 6f.
boa semana!

sábado, novembro 08, 2008

no brasil não seria mole assim

louca a cantar a janela

sem preconceito.


sexta-feira, novembro 07, 2008

II Fórum Cristianismo Criativo

A ver ao vivo o fórum Cristianismo Criativo que está a acontecer na livraria Cultura do Shopping Market Place em São Paulo. Se podes corre lá pra ver. Se tás no comps acede http://www.ustream.tv/channel/portal-cristianismo-criativo e assiste online.

e tudo se fez novo

uma das novidades da "palermice" foi o facto de ter perdido o contador do blog.
logo, estamos realmente a começar do zero.
dentro do fazer tudo de novo... acabamos por ter tudo novo.

psionline 2


"Quanto mais deixamos que Deus assuma o controle sobre nós, mais autênticos nos tornamos - pois foi ele quem nos fez. Ele inventou todas as diferentes pessoas que eu e você tencionávamos ser (...) É quando me viro para Cristo e me rendo à sua personalidade que pela primeira vez começo a ter minha própria e real personalidade." C. S. Lewis

Olhos e barriga

querer mudar nem sempre significa ter êxito.
apanhando para colocar a imagem no cabeçalho outra vez,
sem ter a menor noção de onde está a falha.
tudo por 3 colunas!
será que tive mais olhos que barriga?

ainda agora descobri um outro template fixe...
e fiquei com aquela desagradável sensação,
é fixe, gostei...
mas será que gosto o suficiente para fazer tudo outra vez?
(tudo = links, widgets, etc.)

vamos ver se consigo a imagem do cabeçalho...
do contrário,
mudanças virão!

ah pois, já me tinha esquecido: yes we can!
só não sei como.

quinta-feira, novembro 06, 2008

Já se aconselhou hoje?


COM QUEM O LÍDER SE ACONSELHA?

O Dr. Frank Lake contou-nos que quando se preparava para dirigir os encontros de “terapia primal”, promovidos pelo CPPC e ABUB em 1978, ele foi visitar seu orientador espiritual. Este era pastor de uma pequena paróquia longe de Londres. Depois de conversarem caminhando pela praia deserta, seu “confessor” o levou às dependências do templo, onde um pequeno grupo carismático, que estava de “plantão”, orou por sua viagem ao Brasil.
Imagino o quadro tocante: aquele psiquiatra e teólogo famoso, cuja experiência orientou muitos líderes cristãos, sendo aconselhado por anônimos irmãos que nem o conheciam! Bem-aventurado o líder que aceita ajuda e a busca. É ainda mais feliz que buscando-a, a encontra!
Não sei até que ponto nosso caudilhismo latino-americano tem a ver com a leitura de auto-suficiência que fazemos dos grandes líderes da Bíblia. O certo é que, na maioria das vezes os vemos como pessoas que aconselham a todo mundo, mas não tem a quem falar dos seus problemas - a não ser a Deus (e essa “solidão olímpica” é entendida como prova de “espiritualidade” e desculpa para nossa auto-suficiência!).
Por isso, com muita facilidade nos esquecemos de episódios que desmentem essa imagem. Por exemplo: Moisés, que nos parece tão capaz, nada fazia sem o auxílio de Arão e prontamente aceitou o conselho de seu sogro (Ex.18.13-27). Paulo foi claramente orientado por Ágabo, em casa de Felipe, em Cesaréia, sobre as conseqüências de sua viagem a Jerusalém - embora coubesse a ele tomar a decisão correta (At. 21.8-14). E mesmo Jesus (de quem pode parecer absurdo e até blasfemo pensar que precisasse de ajuda) não quis estar sozinho em seu mais profundo momento de angústia, à sombra da cruz: levou consigo ao Getsêmane os discípulos e dentre eles pediu aos três mais íntimos companhia em oração (Mt. 26.36-46).
Não sei se pelo desapontamento de experiências como a de Jesus (causado pela indiferença ou inabilidade das pessoas a quem pedimos ajuda), por natural pudor de expormos nossos problemas ou por medo de quebrarmos nossa auto-imagem e nos tornarmos vulneráveis a comentários de colegas - muitos preferem buscar auxílio na literatura existente sobre o crescimento pessoal.
E, de fato, há bons livros disponíveis, evangélicos ou não, e podemos lê-los com proveito. Mas todos nós conhecemos o limite da auto-análise: falta-nos objetividade bastante para percebermos as armadilhas de nosso inconsciente, como o constata o salmista: “Quem pode discernir os próprios erros?” (Sl. 19.12a).
Daí a necessidade de termos pelo menos um amigo de confiança, companheiro de oração, a quem possamos expor nossos sentimentos, nossas lutas e nossos sonhos. E isso variará de acordo com nossas características pessoais e circunstanciais.
Alguns experimentamos o pequeno grupo de comunhão regular, de colegas onde a confiança mútua resulta em ajuda efetiva. Outros recorrem a um líder mais experiente, “pai” ou mentor espiritual e algumas igrejas até dispõem de bispos ou superintendentes que (tenham ou não este título) realmente conhecem e ajudam outros líderes. Mas alguns descobrirão que um colega de outra denominação, que tenha experiências semelhantes mas não esteja envolvido no mesmo quadro institucional é o “conselheiro” mais adequado. Outros, finalmente, estão abertos ao socorro do Senhor, que vem através de companheiros de jornada que Deus coloca em nosso caminho num dado momento e com quem podemos compartilhas livremente o peso que nos oprime.
Mas, seja qual for o meio escolhido, creio que é indispensável que desenvolvamos a transparência em nossos relacionamentos de tal modo que possamos aceitar, pedir e receber ajuda “no tempo oportuno”.

Noé Staley Gonçalves no site da Eirene Brasil

quarta-feira, novembro 05, 2008

insónia


engrossar o caldo

hoje será o dia "mundial" do Yes, we can.
por todo o lado estará estampado o mote.
agora é esperar para ver, o que é que podemos...

terça-feira, novembro 04, 2008

Identificação

Esquizofrenia e Revelação - Volney Faustini

Ao dizer que a internet (o mundo virtual com as ferramentas de sociabilização, tendo o blog como seu ápice) revela nossa esquizofrenia, é frequente a reação de espanto. Um espanto para o fato de que não somos perfeitos, ou um espanto para a força desse ambiente virtual?
Não sei.
É difícil - diria até impossível - blogar sem que o efeito terapêutico apareça. E junto com a postagem vem a revelação do nosso eu. Não sei o que vem primeiro - se é o tratamento de nós mesmos, ou a exposição. Não sei também, o que é causa o que é efeito.
É fato, que a desordem de nossa alma encontra ressonância no espelho da escrita. Cada leitura de minha própria postagem é um toque de alerta para ser quem realmente sou. Ou para me dizer que sou, aquele que sou!
Há algo diferente e estranho nas nossas expressões. Pelo menos na minha. Me sinto mais integrado (integro, não sei). Me sinto mais espontâneo (extemporâneo - talvez). Me sinto mais autêntico (mais eu mesmo - isso sim).
Vez ou outra vamos nos encontrar nu - do jeito que nascemos. Se de um lado é o estado bruto de nossa concepção, também o é a forma líquida de nossas imperfeições e carências. É alma que procura domar o corpo, muitas vezes por ele dominado.
Enquanto posto, vivo momento de grande expectativa. Não por aquilo que o tempo encerra, mas pelo que desabrocha. Uma contagem rápida me dá dezenas de novos amigos (bem recentes), uma dúzia de projetos para me envolver, o escritório, a carreira profissional, a família ... É muita coisa, E agora um grande desafio à frente.
E é isso que vai nascer que me entusiasma!
Vou compartilhar em breve. Mas por enquanto, fica aqui o meu muito obrigado a cada um que tem vindo aqui me prestigiar com leitura, indicação e até mesmo com um comentário. Minha alma também agradece. Todos nós agradecemos.


no divã

parece que já foi há mais tempo, dada a intensidade da vida que vivemos. foi há pouco mais de um mês, e mais do que era comum, sua lembrança é viva. ciclos completos.

psionline 1

"A ansiedade nada mais é do que a tensão entre o agora e o depois..." Jung

segunda-feira, novembro 03, 2008

Ensaio sobre a cegueira

"Sempre estamos mais ou menos cegos, sobretudo, para o fundamental"

"Onde estava todo esse dinheiro [desbloqueado para resgatar os bancos]? Estava muito bem guardado. Logo apareceu, de repente, para salvar o quê? Vidas? Não, os bancos"

"Marx nunca teve tanta razão como agora", ressaltou José Saramago, acrescentando que "as piores conseqüências ainda não se manifestaram".

Frases de José Saramago, numa entrevista sobre o lançamento em Lisboa do filme de Fernando Meirelles baseado no romance "Ensaio sobre a cegueira" de Saramago

Crise de humanidade

A crise econômico-financeira, presivísvel e inevitável, remete a uma crise mais profunda. Trata-se de uma crise de humanidade. Faltaram traços de humanidade minimos no projeto neoliberal e na economia de mercado, sem os quais nenhuma instituição, a médio e longo prazo, se agüenta de pé: a confiança e a verdade.
A economia pressupõe a confiança de que os impulsos eletrônicos que movem os papéis e os contratos tenham lastro e não sejam mera matéria virtual, portanto, fictícia. Pressupõe outrossim a verdade de que os procedimentos se façam segundo regras observadas por todos. Ocorre que no neoliberalismo e nos mercados, especialmente a partir da era Thatcher e Reagan, predominiou a financeirização dos capitais. O capital financeiro-especulativo é da ordem de 167 trilhões de dólares, enquanto o capital real, empregado nos processos produtivos (por volta de 48 trilhões de dólares anuais). Aquele delirava na especulação das bolsas, dinheiro fazendo dinheiro, sem controle, apenas regido pela voracidade do mercado. Por sua natureza, a especulação comporta sempre alto risco e vem submetida a desvios sistêmicos: à ganância de mais e mais ganhar, por todos os meios possíveis.


Os gigantes de Wall Street eram tão poderosos que impediam qualquer controle, seguindo apenas suas próprias regulações. Eles contavam com as informações antecipadas (Insider Information), manipulavam-nas, divulgavam boatos nos mercados, induziam-nos a falsas apostas e tiravam daí grandes lucros. Basta ler o livro do mega-especulador George Soros "A crise do capitalismo" para constatá-lo, pois ai conta em detalhes estas manobras que destroem a confiança e a verdade. Ambas eram sacrificadas sistematicamente em função do ganância dos especuladores. Tal sistema tinha que um dia ruir, por ser falso e perverso, o que de fato ocorreu.


A estratégia inicial norte-americana era injetar tanto dinheiro nos “ganhadores”(winner) para que a lógica continuasse a funcionar sem pagar nada por seus erros. Seria prolongar a agonia. Os europeus, recordando-se dos resquícios do humanismo das Luzes que ainda sobraram, tiveram mais sabedoria. Denunciaram a falsidade, puseram a campo o Estado como instância salvadora e reguladora e, em geral, como ator econômico direto na construção na infra-estutura e nos campos sensíveis da economia.Agora não se trata de refundar o neoliberalismo mas de inaugurar outra arquitetura econômica sobre bases não fictícias. Isto quer dizer, a economia deve ser capítulo da política (a tese clássica de Marx), não a serviço da especulação mas da produção e da adequada acumulação. E a política se regerá por critérios éticos de transparência, de eqüidade, de justa media, de controle democrático e com especial cuidado para com as condições ecológicas que permitem a continuidade do projeto planetário humano.


Por que a crise atual é crise de humanidade? Porque nela subjaz um conceito empobrecido de ser humano que só considera um lado dele, seu lado de ego. O ser humano é habitado por duas forças cósmicas: uma de auto-afirmação sem a qual ele desaparece. Aqui predomina o ego e a competição. A outra é de integração num todo maior sem o qual também desaparece. Aqui prevalece o nós e a cooperação. A vida só se desenvolve saudavelmente na medida em que se equilibram o ego com o nós, a competição com a cooperação. Dando rédeas só à competição do ego, anulando a cooperação, nascem as distorções que assistimos, levando à crise atual. Contrariamente, dando espaço apenas ao nós sem o ego, gerou-se o socialismo despersonalizante e a ruína que provocou.


Erros desta gravidade, nas condições atuais de interdepedência de todos com todos, nos podem liquidar. Como nunca antes temos que nos orientar por um conceito adequado e integrador do ser humano, por um lado individual-pessoal com direitos e por outro social-comunitário com limites e deveres. Caso contrário, nos atolaremos sempre nas crises que serão menos econômico-financeiras e mais crises de humanidade.


Leonardo Boff [via Direto da Redação]


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