Psicodinâmica e Sacrodinâmica - parte 3
por Uriel Heckert é Médico Psiquiatra e Professor Universitário em Juiz de Fora, e presidente nacional do CPPC
Estágios da Fé
Reconhecido o lugar do sagrado, podemos perceber como a fé ganha importância relevante dentro da história de vida de cada pessoa. Assim, ela deve ser estudada nas suas expressões características, articulando-se com as etapas já bem conhecidas do desenvolvimento psíquico. A fé pode ser considerada como parte desse desenvolvimento, assumindo em cada etapa aspectos dominantes característicos, sendo influenciada e determinada, pelo menos em parte, pelo estágio evolutivo que o indivíduo atravessa. Ela sofre desafios crescentes, experimenta mudanças e, por sua vez, oferece respostas esclarecedoras e estruturantes às crises da existência.
As investigações seguem dois fulcros, pelo menos, quando se busca relacionar fé e teorias do desenvolvimento. O primeiro deles parte da teoria do ciclo vital, tal como definida por Erik Erikson, e procura demonstrar a evolução da fé desde o nascimento até à morte. Essa abordagem tem permitido interes-santes estudos sobre o que significa maturidade, em termos tanto de crescimento individual como de fé.
LeRoy Aden propôs um paralelo entre as etapas do ciclo vital descritas por aquele autor e as correspondentes manifestações de fé. Assim, elaborou oito formas de expressão da fé, a partir das descrições das etapas psicossociais já conhecidas. Ele propugna por lançar luz sobre os recursos e estratégias individuais de crescimento que, em cada período, exercem influência significativa sobre a vivência da fé. Tal qual na teoria de Erikson, a ênfase recai nos aspectos sadios que cada etapa do desenvol-vimento pode apresentar.
Estágios da Fé
Reconhecido o lugar do sagrado, podemos perceber como a fé ganha importância relevante dentro da história de vida de cada pessoa. Assim, ela deve ser estudada nas suas expressões características, articulando-se com as etapas já bem conhecidas do desenvolvimento psíquico. A fé pode ser considerada como parte desse desenvolvimento, assumindo em cada etapa aspectos dominantes característicos, sendo influenciada e determinada, pelo menos em parte, pelo estágio evolutivo que o indivíduo atravessa. Ela sofre desafios crescentes, experimenta mudanças e, por sua vez, oferece respostas esclarecedoras e estruturantes às crises da existência.
As investigações seguem dois fulcros, pelo menos, quando se busca relacionar fé e teorias do desenvolvimento. O primeiro deles parte da teoria do ciclo vital, tal como definida por Erik Erikson, e procura demonstrar a evolução da fé desde o nascimento até à morte. Essa abordagem tem permitido interes-santes estudos sobre o que significa maturidade, em termos tanto de crescimento individual como de fé.
LeRoy Aden propôs um paralelo entre as etapas do ciclo vital descritas por aquele autor e as correspondentes manifestações de fé. Assim, elaborou oito formas de expressão da fé, a partir das descrições das etapas psicossociais já conhecidas. Ele propugna por lançar luz sobre os recursos e estratégias individuais de crescimento que, em cada período, exercem influência significativa sobre a vivência da fé. Tal qual na teoria de Erikson, a ênfase recai nos aspectos sadios que cada etapa do desenvol-vimento pode apresentar.
Idade (Anos de Vida) = Fator prevalecente do desenvolvimento de identidade = Forma Predominante de fé
00-01 = Confiança / Desconfiança = Fé como Confiança
01-03 = Autonimia / Vergonha e dúvida = Fé como Coragem
03-06 = Iniciativa / Culpa = Fé como Obediência
06-12 = Engenhosidade / Inferioridade = Fé como Assentimento
12-18 = Identidade / Confusão = Fé como Identidade
>18 = Intimidade / Isolamento = Fé como Entrega
> = Generosidade / Auto-absorsão = Fé como Doação Incondicional
> = Integridade / Desespero = Fé como Aceitação incondicional
00-01 = Confiança / Desconfiança = Fé como Confiança
01-03 = Autonimia / Vergonha e dúvida = Fé como Coragem
03-06 = Iniciativa / Culpa = Fé como Obediência
06-12 = Engenhosidade / Inferioridade = Fé como Assentimento
12-18 = Identidade / Confusão = Fé como Identidade
>18 = Intimidade / Isolamento = Fé como Entrega
> = Generosidade / Auto-absorsão = Fé como Doação Incondicional
> = Integridade / Desespero = Fé como Aceitação incondicional
Obs: Tradução e Adaptação do Autor
A Tabela 1 apresenta as oito formas predominantes de fé apontadas por Aden. Ele conclui que “o estágio particular do desenvol-vimento que o indivíduo atravessa influencia e, em parte, determina a resposta de fé de cada um”15.Destaca ainda que a fé oferece elementos de organização do psiquismo, tornando-se um fator de saúde e satisfação, influenciando profundamente a estruturação pessoal. Ela não se comporta passivamente durante as crises do desenvolvimento, mas contribui de forma ativa e transformadora.
Outra linha de investigação que relaciona o desenvolvimento humano com o entendimento da fé tem por base teorias cognitivo-estruturalistas. Parte-se das concepções de Jean Piaget, que descreveu as complexas estruturas psíquicas desenvolvidas pelo ser humano em crescimento, capazes de lhe garantir conhecimento e interação com o mundo. Seguindo essa direção, Lawrence Kohlberg elaborou uma seqüência estruturada que diz respeito ao desenvolvimento da consciência moral. Para o nosso interesse atual, ganha relevância o trabalho de James W. Fowler, que estudou estágios de desenvolvimento da fé, confrontando-os com as características próprias a cada etapa do desenvolvimento cognitivo.
Fowler baseou-se em ampla pesquisa, reunindo dados de mais de 359 entrevistas semi-estruturadas com pessoas de diferentes idades e formações religiosas, em países norte-americanos (Estados Unidos e Canadá). Pela análise sistemática dos dados, pôde identificar seis agrupamentos bem definidos de formas de crer, que chamou estágios da fé. Antecedendo a eles, distinguiu um pré-estágio caracterizado pela presença de uma fé que chamou indiferenciada. As categorias utiliza-das para compor as formas de fé por ele descritas foram as seguintes: locus de autoridade, forma de coerência do mundo, limites da consciência social, função simbólica, forma de lógica, assunção de perspectiva relacional e forma de julgamento moral16.
Exporemos a seguir, sucin-tamente, cada estágio descrito por Fowler, considerando que tais pesquisas são ainda pouco conhecidas em nosso meio.
Pré-estágio – Período de 0 a 2 anos de idade – Caracterizado por uma fé dita indiferenciada, em que se constrói “o fundo de confiança básica e a experiência relacional de mutualidade”, que estarão subja-centes a tudo o que virá mais tarde no desenvolvimento da fé17.
Estágio I - Período de 2 a 7 anos, chamado de fé intuitivo-projetiva. A característica marcante aqui é de uma fé fantasiosa e imitativa, que acompanha as primeiras experiências auto-conscientes, com forte conteúdo imaginativo, pois que ainda não inibido pelo pensamento lógico.
Estágio II – Período de 7 a 12 anos, caracterizado pela fé mítico-literal. As crenças neste estágio são apreendidas segundo uma interpretação literal, ganhando construção linear, mesmo que já se requeira coerência e sentido. Nele “a pessoa começa a assumir para si as estórias, crenças e observâncias que simbolizam pertença à sua comunidade”18.
Estágio III – Período de 12 a 18 anos, chamado de fé sintético-convencional. Surge a necessidade de sintetizar valores, informações e crenças, de forma a sustentar uma ideologia que dê base para a identidade e perspectivas pessoais. Desponta a capacidade de formar o “mito pessoal, o mito do próprio devir da pessoa em identidade e fé, incorporando o passado e o futuro previsto em uma imagem do ambiente último unificada por características de personalidade”19.
Estágio IV – Período de 18 a 25 anos, chamado de fé individuativo-reflexiva. Neste ponto o indivíduo está pronto para assumir responsavelmente os compromissos que lhe são inerentes, definindo seu estilo de vida, crenças e atitudes. A identidade pessoal já definida permite a afirmação de uma cosmovisão própria. A capacidade reflexiva, por sua vez, leverá ao questionamento de crenças anteriores, dando a este estágio uma caráter “desmito-logizador”.
Estágio V – Período após os 25 anos, chamado de fé conjuntiva, ou também integrativa. Aqui tende-se a ultrapassar a lógica dicotomizante anterior, atentando para as relações que pode haver entre diferentes concepções de fé. Surge uma disposição dialética que acolhe elementos anteriormente excluídos, mesmo aqueles de aparente oposição, fazendo sobressair o “eu mais profundo”, com suas complexidades e ambivalências. Passa-se a admitir a convivência com o que é diferente e ameaçador, considerando que “as apreensões da realidade transcendente são relativas, parciais e inevitavelmente distor-cedoras”.
Estágio VI – Atribuído à maturidade e caracterizado pela chamada fé universalizante. Poucos teriam acesso a esse nível de desenvolvimento da fé. Ele se expressa pelo engajamento decidido da pessoa na transformação da realidade atual, visando valores últimos. O móvel é uma “devoção à compaixão universalizante”, que brota de “visões ampliadas da comunidade universal” e permite uma prontidão a “ter comunhão com pessoas de qualquer um dos outros estágios e de quaisquer outras tradições de fé”. Fowler afirma sua crença em que “as pessoas que chegam a corporificar a fé universalizante são levadas a esses padrões de comprometimento e liderança pela providência de Deus e pelas exigências da história” 21.
Idade = Etapa do desenvolvimento Cognitivo = Estágio da Fé
0-2 anos =Etapa sensório-motora Pré-Estágio = Fé indiferenciada
2-7 anos =Etapa pré-operacional ou intuitiva Estágio I = Fé intuitio-projetiva
7-12 anos = Etapa Operacional Comcreta Estágio II = Fé mítico-literal
12-18 anos = Etapa Operacional Formal (dicotomica) Estágio III = Fé sintético-convencional
18-25 anos = Etapa Operacional Formal (dialética) Estágio IV = Fé individuativo-reflexiva
> 25 anos = Etapa Operacional Formal (sintética) Estágio V = Fé conjuntiva (ou integrativa)
> = Etapa do desenvolvimento Cognitivo, Etapa Operacional Formal (dicotomica) Estágio VI = Fé universalizante
A Tabela 2 mostra a relação dos estágios da fé propostos por Fowler com as etapas do desenvolvimento cognitivo descritas por Piaget.
Claro está que o desenvolvimento da fé não se dá de forma linear, pois, tal qual ocorre com o progresso psíquico, ele pode sofrer retardamentos e fixações. Se a fé não encontra elementos adequados à sua evolução, aí incluídos principalmente os fatores de estagnação ao desenvolvimento global da personalidade, ela pode caminhar em descompasso com a idade cronológica. Entretanto, estará sempre em relação com o grau de maturação psíquica que a pessoa tiver alcançado. Parece razoável admitir que “não é o espiritual que aparece primeiro, mas o psíquico, e depois o espiritual”. Por outro lado, também é verdade que “é a partir do olhar do imo espiritual que a alma toma seu sentido, o que significa que a psicologia pode de novo estender a mão à teologia”.
Fowler alude à seqüência dos estágios e suas inter-relações usando a figura de um movimento espiral ascendente. A transição de um estágio a outro seguinte pressupõe uma crise, vivida com intensidade variada por cada pessoa, segundo o grau de estabilidade psíquica e a configuração existencial que a cerca no momento dado. Experiências marcantes que alterem significati-vamente conteúdos da fé, geralmente denominadas de conversão, introduzem mudanças na forma de vivenciá-la, podendo implicar numa mudança de estágio. Regressão a estágios anteriores é uma das possibilidades, mesmo que seja para melhor elaborar ou reconstituir aspectos mutilantes que tenham ficado mal resolvidos. Outra possibilidade é que tais experiências alavanquem uma retomada do desenvolvimento para níveis mais adequados.
As possibilidades que se colocam são assim descritas por J. Harold Ellens:
“Para amadurecer de um estágio a outro seguinte precisamos de conversão; isto é, precisamos ser despertados para uma nova dimensão de fé e experimentar uma visão transcendente que alargue nossos paradigmas, revise e expanda nossa cosmovisão, reintegre nosso ´self` e nossa experiência com um novo sistema de convicções e perspectivas. Quando atingimos as experiências limite que nos desafiam à conversão e resistimos às demandas de uma nova e expandida visão de verdade, de fé e de perspectiva, regredimos e nos aprisionamos na cosmovisão imatura de um estágio anterior do nosso desenvolvimento.”23 (tradução do autor).
Outra linha de investigação que relaciona o desenvolvimento humano com o entendimento da fé tem por base teorias cognitivo-estruturalistas. Parte-se das concepções de Jean Piaget, que descreveu as complexas estruturas psíquicas desenvolvidas pelo ser humano em crescimento, capazes de lhe garantir conhecimento e interação com o mundo. Seguindo essa direção, Lawrence Kohlberg elaborou uma seqüência estruturada que diz respeito ao desenvolvimento da consciência moral. Para o nosso interesse atual, ganha relevância o trabalho de James W. Fowler, que estudou estágios de desenvolvimento da fé, confrontando-os com as características próprias a cada etapa do desenvolvimento cognitivo.
Fowler baseou-se em ampla pesquisa, reunindo dados de mais de 359 entrevistas semi-estruturadas com pessoas de diferentes idades e formações religiosas, em países norte-americanos (Estados Unidos e Canadá). Pela análise sistemática dos dados, pôde identificar seis agrupamentos bem definidos de formas de crer, que chamou estágios da fé. Antecedendo a eles, distinguiu um pré-estágio caracterizado pela presença de uma fé que chamou indiferenciada. As categorias utiliza-das para compor as formas de fé por ele descritas foram as seguintes: locus de autoridade, forma de coerência do mundo, limites da consciência social, função simbólica, forma de lógica, assunção de perspectiva relacional e forma de julgamento moral16.
Exporemos a seguir, sucin-tamente, cada estágio descrito por Fowler, considerando que tais pesquisas são ainda pouco conhecidas em nosso meio.
Pré-estágio – Período de 0 a 2 anos de idade – Caracterizado por uma fé dita indiferenciada, em que se constrói “o fundo de confiança básica e a experiência relacional de mutualidade”, que estarão subja-centes a tudo o que virá mais tarde no desenvolvimento da fé17.
Estágio I - Período de 2 a 7 anos, chamado de fé intuitivo-projetiva. A característica marcante aqui é de uma fé fantasiosa e imitativa, que acompanha as primeiras experiências auto-conscientes, com forte conteúdo imaginativo, pois que ainda não inibido pelo pensamento lógico.
Estágio II – Período de 7 a 12 anos, caracterizado pela fé mítico-literal. As crenças neste estágio são apreendidas segundo uma interpretação literal, ganhando construção linear, mesmo que já se requeira coerência e sentido. Nele “a pessoa começa a assumir para si as estórias, crenças e observâncias que simbolizam pertença à sua comunidade”18.
Estágio III – Período de 12 a 18 anos, chamado de fé sintético-convencional. Surge a necessidade de sintetizar valores, informações e crenças, de forma a sustentar uma ideologia que dê base para a identidade e perspectivas pessoais. Desponta a capacidade de formar o “mito pessoal, o mito do próprio devir da pessoa em identidade e fé, incorporando o passado e o futuro previsto em uma imagem do ambiente último unificada por características de personalidade”19.
Estágio IV – Período de 18 a 25 anos, chamado de fé individuativo-reflexiva. Neste ponto o indivíduo está pronto para assumir responsavelmente os compromissos que lhe são inerentes, definindo seu estilo de vida, crenças e atitudes. A identidade pessoal já definida permite a afirmação de uma cosmovisão própria. A capacidade reflexiva, por sua vez, leverá ao questionamento de crenças anteriores, dando a este estágio uma caráter “desmito-logizador”.
Estágio V – Período após os 25 anos, chamado de fé conjuntiva, ou também integrativa. Aqui tende-se a ultrapassar a lógica dicotomizante anterior, atentando para as relações que pode haver entre diferentes concepções de fé. Surge uma disposição dialética que acolhe elementos anteriormente excluídos, mesmo aqueles de aparente oposição, fazendo sobressair o “eu mais profundo”, com suas complexidades e ambivalências. Passa-se a admitir a convivência com o que é diferente e ameaçador, considerando que “as apreensões da realidade transcendente são relativas, parciais e inevitavelmente distor-cedoras”.
Estágio VI – Atribuído à maturidade e caracterizado pela chamada fé universalizante. Poucos teriam acesso a esse nível de desenvolvimento da fé. Ele se expressa pelo engajamento decidido da pessoa na transformação da realidade atual, visando valores últimos. O móvel é uma “devoção à compaixão universalizante”, que brota de “visões ampliadas da comunidade universal” e permite uma prontidão a “ter comunhão com pessoas de qualquer um dos outros estágios e de quaisquer outras tradições de fé”. Fowler afirma sua crença em que “as pessoas que chegam a corporificar a fé universalizante são levadas a esses padrões de comprometimento e liderança pela providência de Deus e pelas exigências da história” 21.
Idade = Etapa do desenvolvimento Cognitivo = Estágio da Fé
0-2 anos =Etapa sensório-motora Pré-Estágio = Fé indiferenciada
2-7 anos =Etapa pré-operacional ou intuitiva Estágio I = Fé intuitio-projetiva
7-12 anos = Etapa Operacional Comcreta Estágio II = Fé mítico-literal
12-18 anos = Etapa Operacional Formal (dicotomica) Estágio III = Fé sintético-convencional
18-25 anos = Etapa Operacional Formal (dialética) Estágio IV = Fé individuativo-reflexiva
> 25 anos = Etapa Operacional Formal (sintética) Estágio V = Fé conjuntiva (ou integrativa)
> = Etapa do desenvolvimento Cognitivo, Etapa Operacional Formal (dicotomica) Estágio VI = Fé universalizante
A Tabela 2 mostra a relação dos estágios da fé propostos por Fowler com as etapas do desenvolvimento cognitivo descritas por Piaget.
Claro está que o desenvolvimento da fé não se dá de forma linear, pois, tal qual ocorre com o progresso psíquico, ele pode sofrer retardamentos e fixações. Se a fé não encontra elementos adequados à sua evolução, aí incluídos principalmente os fatores de estagnação ao desenvolvimento global da personalidade, ela pode caminhar em descompasso com a idade cronológica. Entretanto, estará sempre em relação com o grau de maturação psíquica que a pessoa tiver alcançado. Parece razoável admitir que “não é o espiritual que aparece primeiro, mas o psíquico, e depois o espiritual”. Por outro lado, também é verdade que “é a partir do olhar do imo espiritual que a alma toma seu sentido, o que significa que a psicologia pode de novo estender a mão à teologia”.
Fowler alude à seqüência dos estágios e suas inter-relações usando a figura de um movimento espiral ascendente. A transição de um estágio a outro seguinte pressupõe uma crise, vivida com intensidade variada por cada pessoa, segundo o grau de estabilidade psíquica e a configuração existencial que a cerca no momento dado. Experiências marcantes que alterem significati-vamente conteúdos da fé, geralmente denominadas de conversão, introduzem mudanças na forma de vivenciá-la, podendo implicar numa mudança de estágio. Regressão a estágios anteriores é uma das possibilidades, mesmo que seja para melhor elaborar ou reconstituir aspectos mutilantes que tenham ficado mal resolvidos. Outra possibilidade é que tais experiências alavanquem uma retomada do desenvolvimento para níveis mais adequados.
As possibilidades que se colocam são assim descritas por J. Harold Ellens:
“Para amadurecer de um estágio a outro seguinte precisamos de conversão; isto é, precisamos ser despertados para uma nova dimensão de fé e experimentar uma visão transcendente que alargue nossos paradigmas, revise e expanda nossa cosmovisão, reintegre nosso ´self` e nossa experiência com um novo sistema de convicções e perspectivas. Quando atingimos as experiências limite que nos desafiam à conversão e resistimos às demandas de uma nova e expandida visão de verdade, de fé e de perspectiva, regredimos e nos aprisionamos na cosmovisão imatura de um estágio anterior do nosso desenvolvimento.”23 (tradução do autor).
0 conversando:
Enviar um comentário